segunda-feira, 29 de agosto de 2011

A expansão territorial dos EUA no século XIX.


No século XIX, os norte-americanos acreditavam que haviam sido escolhidos por Deus para liderarem o mundo e nada, nem ninguém, poderia impedi-los. Essa crença ficou conhecida como a Doutrina do Destino Manifesto. Essa doutrina foi a razão ideológica que moveu os americanos, no século XIX, a expandirem seu território na direção oeste.


A pergunta que podemos fazer, é: por que os americanos expandiram seu território? Ou por outra: quais seriam as causas dessa expansão territorial? A resposta apresenta dois aspectos básicos:
  1. o desenvolvimento econômico dos Estados Unidos no século XIX exigia a ampliação do território;
  2. o grande contingente de imigrantes europeus que foram para a América em busca de novas oportunidades fez crescer a pressão por terras.
Em 1862, no governo Lincoln, foi aprovada uma lei que dava, àqueles que cultivassem por 5 anos,terras no oeste, o direito de possuírem 160 acres dessas terras. Essa lei, conhecida como Homestead Act, atraiu ainda mais imigrantes europeus para os Estados Unidos
.
Estes dois fatores, combinados, foram responsáveis pela expansão territorial dos Estados Unidos no século XIX.

Outra aspecto importante dessa expansão, é saber como, de que maneira, quais foram os mecanismos de conquista desses territórios. Para isso, a partir de agora, você precisa ler com calma e analisar com cuidado os mapas abaixo

Mecanismos de Conquista

a) Compra de Territórios
Pelo Tratado de Versalhes, 1783, firmado com a Inglaterra, o território dos Estados Unidos abrangia da Costa do Atlântico até o Mississipi.
No século XIX, essa realidade se altera consideravelmente. Em direção ao Oeste aparece o território da Louisiana, colônia francesa, que Napoleão Bonaparte - devido às guerras na Europa e Antilhas, Haiti - negociou com os norte-americanos por 15 milhões de dólares (1803). A Flórida foi comprada dos espanhóis, em 1819, por cinco milhões de dólares. A Rússia vendeu o Alasca aos Estados Unidos por sete milhões de dólares.

b)
Diplomacia
A anexação de Óregon - Noroeste -, colônia inglesa, região que despertou pouco interesse até 1841, foi cedida aos americanos em 1846.
c) Guerra

O Sudoeste americano pertencia ao México. A conquista desse território ocorreu através da guerra. Em 1821, os colonos americanos passaram a colonizar esse território com autorização do governo mexicano, que exigiu-lhes a lealdade e a adoção da religião católica por parte dos pioneiros. A dificuldade encontrada pelo México na consolidação do Estado Nacional refletiu-se em conflitos internos e no estabelecimento de ditaduras, como a de Lópes de Sant'Anna. Esses fatos impediram um efetivo controle sobre essa região, outrora concedida. Dessa maneira, o Texas estava fadado a compor os Estados Unidos, o que ocorreu em 1845, quando os colonos norte-americanos ali estabelecidos declararam a independência do território em relação ao México e a sua incorporação aos Estados Unidos.

A guerra estendeu-se até 1848, quando foi assinado o Tratado de Guadalupe-Hidalgo, que estabelecia o Rio Grande como linha fronteiriça entre o México e o Texas, além da cessão da Califórnia, Arizona, Novo México, Nevada, Utah e parte do Colorado aos Estados Unidos, por 15 milhões de dólares.

Em 1853, foi completada a anexação de territórios do México com a incorporação de Gadsden. Metade do território mexicano havia sido perdida para os Estados Unidos. Lázaro Cárdenas, presidente mexicano (1934-1940), em relação ao imperialismo norte-americano comentou: "Pobre México, tão longe de Deus e tão perto dos Estados Unidos".

d)
A guerra de extermínio contra os indígenas

As maiores vítimas da marcha para o Oeste foram os indígenas. Estes encontravam-se em estágios de pouco desenvolvimento se comparados aos astecas, maias e incas, daí sua dificuldade para resistir ao domínio e força dos brancos europeus.
Os norte-americanos acreditavam que, além de serem os predestinados por Deus a ocuparem todo o território, deveriam cumprir a missão de civilizar outros povos.

As tribos do Sul, mais desenvolvidas, proporcionaram uma resistência maior à ocupação do branco. No entanto, a única opção das tribos indígenas foi a ocupação de terras inférteis em direção ao Pacífico, até o seu extermínio. Hoje, os remanescentes desses povos vivem em reservas indígenas espalhadas pelo país.

MAPA 1

A parte rosa do mapa foram as terras que a Inglaterra cedeu aos Estados Unidos através do Tratado de Versalhes, de 1783 e que reconhecia a independência do novo país. Você seria capaz de localizar o território das 13 colônias?

Mapa 2

Abaixo, você tem, por data, todas as conquistas territoriais dos Estados Unidos. Clique no mapa e observe com riqueza de detalhes.


Esse país imenso, com uma economia forte e em pleno desenvolvimento no século XIX, contudo, ainda tinha um sério problema a resolver. Os Estados Unidos apresentavam dois modelos econômicos: os estados do norte eram industrializados e usavam mã0-de-obra livre; os estados do sul, eram agro-exportadores e escravistas.


Blog do ZePaulo

A Guerra da Secessão

Os Estados Unidos nos séculos XIX e XX

domingo, 28 de agosto de 2011

OS PELADOS E OS PELUDOS -

OS PELADOS E OS PELUDOS
O Brasil descobre a sujeira
Os homens peludos estavam na proa. Os homens pelados estavam na praia. No instante em que se encontraram, no alvorecer de 22 de abril de 1500, o Brasil entrou socialmente no curso da história. Os homens peludos vinham do leste a bordo daquilo que os homens pelados julgaram ser "montanhas flutuantes". Após 44 dias em alto-mar, os peludos estavam fatigados – e imundos, embora, como se verá, sua sujeira não estivesse ligada apenas àquela cansativa navegação. Os pelados também tinham vindo do leste – mas haviam chegado àquela praia de areias faiscantes havia mais de quinze séculos.
Os peludos tinham barbas e vastas cabeleiras sebosas. Os pelados não estavam apenas desnudos, mas depilados. Os barbudos, quase todos, eram gordos ou magros demais e seus dentes, quando os tinham, estavam cariados. Os depilados exibiam dentes alvos, "bons rostos e bons narizes", "cabelos corredios e bem lavados", troncos, pernas e braços musculosos. Os barbudos raramente tomavam banho, mas a óbvia ausência de chuveiros em suas embarcações nada tinha a ver com aquilo: mesmo quando se achavam em sua terra natal, costumavam lavar-se "de corpo inteiro" apenas duas vezes… por ano. Já os depilados pareciam anfíbios: banhavam-se nos rios, nas cachoeiras ou no mar de dez a doze vezes… por dia.
Não havia mulheres entre os peludos: elas haviam ficado em casa, a milhares de quilômetros dali, com seus afazeres e seus muitos pêlos. Para sorte delas, julgava-se que a presença feminina a bordo "dava azar". Já os pelados que se amontoavam na praia - "obra de 60 ou 70" – eram de ambos os sexos, e as mulheres exibiam suas vergonhas "tão altas, tão cerradinhas e tão limpas das cabeleiras que nós, de as muito bem olharmos, não tínhamos vergonha alguma".
Os peludos eram portugueses, e estavam sob o comando do rígido capitão que atendia pelo nome de Pedro Álvares Cabral. Os pelados se autodenominavam "tupis" ("os primeiros", em sua língua), e os portugueses julgaram que eles não tinham "nem fé, nem lei, nem rei". De seu encontro – e futuros desencontros – nasceria o Brasil.
O momento histórico foi registrado em minúcias pelo cronista Pero Vaz de Caminha. Em sua carta inaugural, tão plena de viço e vigor, Caminha fala da bondade das águas e dos ares, da salubridade do clima e da beleza virginal do território então descoberto. Seu texto soa como um cântico à saúde não só da nova terra – "de águas infindas e de tal maneira graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo" –, mas de seus habitantes nativos.
Dos homens pelados que circulavam pela praia, diria o cronista: "Andam muito bem curados e muito limpos. E nisso me parece que são como aves ou animais monteses, aos quais faz o ar melhores penas e melhor cabelo que aos mansos, porque os corpos seus são tão limpos, tão gordos e tão formosos, que mais não podem ser". Mas não eram apenas os bons ares que faziam os indígenas tão saudáveis; Caminha supôs que a dieta equilibrada também contribuísse para o bom estado dos nativos: "Não comem eles senão deste inhame (a mandioca), que aqui há muito, e das sementes e frutos que a terra e as árvores lançam de si. E com isso andam tais e tão rijos, que o não somos nós tanto, com tanto trigo e legumes comemos".
Apesar da fertilidade luxuriante, a terra recém-encontrada não revelou, à primeira vista, possuir "ouro, nem prata, nem coisa alguma de metal". Mas tal constatação não pareceu perturbar Caminha, pois, segundo ele, "o melhor fruto" que dela se poderia tirar não eram lucros materiais, mas a conversão dos nativos à "verdadeira religião", tarefa que, acreditava ele, seria facilitada pela própria saúde e evidente asseio de seus habitantes: "Creio que essa gente se há de se fazer cristã e crer em nossa santa fé, pois Nosso Senhor, que lhe deu bons corpos e bons rostos, como a bons homens, aqui nos trouxe, e creio que não foi por outro propósito".
Tal viria a ser o impacto da carta de Caminha no processo de construção do imaginário nacional que, cinco séculos depois, o senso comum ainda julga que seu relato foi o único registro sobre o desembarque oficial dos portugueses em terras hoje brasileiras. Mas o fato é que várias outras missivas foram redigidas ao longo dos dez dias em que a frota de Cabral permaneceu ancorada nas águas translúcidas de Porto Seguro, no sul da Bahia. Ainda assim, apenas um outro relato sobreviveu à voragem do tempo: é a chamada Carta de Mestre João. Como o profético texto de Caminha, também ela faz alusão direta às questões de higiene pessoal – só que, nesse caso, a dos próprios portugueses… .
Após pesquisas meticulosas, os historiadores descobriram que mestre João era Juan Faras, um "bacharel em artes e medicina" que fora "cirurgião particular" de D. Manuel, rei de Portugal. Embora se detenha na análise do céu e das estrelas dos trópicos – a carta seria responsável pelo batismo do Cruzeiro do Sul –, Mestre João revela que estava com "uma perna muito mal, que de uma coçadura se me fez uma chaga maior do que a palma da mão". O que pode ser mais revelador das condições higiênicas a bordo das naus e caravelas do descobrimento do que o fato de um médico, muito possivelmente cristão-novo, bem versado em questões de saúde, ter sido atingido por uma doença de pele, fruto, é certo, de contágio, mas também do desleixo pessoal?
Os imundos "quartéis flutuantes"
As narrativas da época de fato pintam um quadro aterrador da imundície e da falta de higiene a bordo dos autênticos quartéis flutuantes que eram os navios lusos dos séculos 15 e 16. Graças à rígida disciplina militar imposta pelos capitães, a vida organizava-se rotineira e regrada na promiscuidade hierarquizada das cobertas e entrecobertas das embarcações – que os enjôos e o relaxamento iam tornando progressivamente "sujas e infectas, porque a maior parte da gente não toma o trabalho de ir acima para satisfazer suas necessidades, o que em parte é causa de morrer ali tanta gente", como atestou o viajante Pyrard de Laval.
Embora fidedigno, o depoimento de Laval é um tanto rigoroso: afinal, é bem conhecido o fato de que muitos dos homens a bordo eram marinheiros de primeira viagem; por isso, tão logo os navios venciam o banco dos Cachopos, na barra do Tejo, sacolejando nas ondulações do mar-oceano, os novatos começavam a vomitar, "sujando-se uns aos outros". Vários deles passavam tão mal que sequer conseguiam se mexer, deixando-se ficar prostrados nos porões – e lá fazendo todas suas necessidades.
Além disso, não havia banheiros nas embarcações – o que, aliás, não consistia surpresa alguma, na medida em que tais instalações inexistiam nas próprias cidades européias. Se urinar não configurava problema – bastando, para tal, aproximar-se das amuradas e aliviar-se no mar –, o mesmo não ocorria no momento em que era chegada a hora de esvaziar os intestinos. Nesse caso, os marujos serviam-se de baldes deixados no convés para aquele fim. Depois de usados, eles eram atirados ao mar, presos por uma corda. Girando na água à medida que os navios seguiam seu rumo, os baldes eram puxados para bordo e usados outra vez. Para limpar-se, não havia nada que se assemelhasse com papel higiênico: os marujos serviam-se de uma corda sempre suspensa na amurada, com a ponta desfiada dentro da água. Essa espécie de pincel encharcado era içado para bordo e, depois de cumprir sua função, voltava a ser mergulhado no mar.
Os problemas de higiene não se limitavam aos mais óbvios. Baseada nos "biscoitos de marear" – espécie de bolacha, dura e seca, "via de regra toda podre das baratas e com bolor mui fedorento" –, a alimentação a bordo revelava-se precária e deficiente, raramente ultrapassando 1500 calorias diárias. Embora fidalgos e religiosos dispusessem de seus próprios víveres, não conseguiam protegê-los da podridão e dos vermes. Os animais vivos e aves de criação levados para bordo, bem como qualquer alimento fresco, esgotavam-se rapidamente, ao passo que o intenso calor equatorial ia rançando e estragando tudo o que já não apodrecera devido à umidade – flagelo permanente nos barcos de madeira.
"Os víveres que nos restavam encontravam-se podres e largavam um cheiro tão repugnante que o momento mais duro de nossos tristes dias eram aqueles em que a sineta de bordo tocava para anunciar as refeições", anotou em 1769 o viajante francês Louis-Antoine de Bouganville. "Que alimentação era a nossa, Deus meu! Bolachas cheias de mofo, e carne que nem os mais intrépidos podiam suportar o odor depois que a dessalgavam".
O lamento de Bouganville soa quase despropositado se comparado aos horrores vividos dois séculos e meio antes pela tripulação de Fernão de Magalhães. "Para não morrermos de fome", narra o italiano Pigafetta, um dos poucos sobreviventes e o principal cronista da expedição que em 1521 se tornaria a primeira a dar a volta ao mundo, "chegamos ao terrível transe de comermos os couros que revestiam os mastros. Estavam tão duros que os deixávamos de molho no mar por cinco dias e então os cozinhávamos por longas horas. Muitas outras vezes, comíamos apenas serragem; e até os ratos, tão repugnantes ao homem, se tornaram um manjar disputado, pelo qual havia quem pagasse meio ducado".
Em meio à vastidão salgada do oceano – longe das plataformas continentais e dos bancos de pesca –, a água doce constituía uma dificuldade adicional: armazenada em tonéis, logo adquiria cor turva e péssimo gosto, pois a madeira reduzia os sulfatos, transformando-os em cloretos nauseabundos, sem falar do acúmulo de bactérias, responsáveis por diarréias e infecções. Quanto à água da chuva recolhida ao largo da costa da África, o padre Andrés de Cabrera não hesitou em afirmar, em 1564, que possuía a "virtude de se converter em larvas em menos de uma hora".
Como não é difícil supor, em meio a condições de higiene tão precárias, pululavam as mais variadas pestes e moléstias. Embora atingissem aos marujos, a maioria deles já havia adquirido anticorpos e, por uma dramática ironia da história, as doenças iriam se revelar inestimáveis aliadas no processo da conquista colonial, já que dizimariam os nativos. Embora muitos marinheiros sobrevivessem às enfermidades inúmeros sucumbiam nos naufrágios, já que dois de cada três navios que zarpavam de Lisboa não retornavam.
Além disso, à medida que as viagens foram ficando cada vez mais "largas" – enquanto prosseguia a obsessiva busca dos portugueses pelas riquezas da Índia –, uma nova e devastadora doença irrompeu em cena. De início, a misteriosa moléstia, que parecia esconder-se na terrível cloaca do porão dos navios, não tinha nome. Cerca de um século após ter eclodido pela primeira vez, foi batizada de "escorbuto" – palavra holandesa que significa "ventre aberto". Sorrateiramente, em meio a tantas doenças de pele, chagas e misérias cotidianas, o "mal das embarcações" rompia a parede dos vasos sangüíneos, fazia inchar as gengivas, provocava a queda dos dentes e produzia insuportável mau hálito. Os horrores da moléstia foram cantados por Luís da Camões:
"E foi que de doença crua e feia
A mais que eu nunca vi, desampararam
Muitos a vida, em terras estranhas e alheias
Os ossos para sempre sepultaram
Quem haverá que, sem o ver, o creia?
Que tão disformemente ali lhe incharam
As gengivas na boca, que crescia
A carne, e juntamente apodrecia"
O escorbuto manifestava-se após 68 dias de alimentação desprovida de vitamina C, causando a morte depois de três meses de indizíveis sofrimentos As péssimas condições sanitárias a bordo e a virtual ausência de hábitos de higiene pessoal faziam com que a doença se espalhasse com espantosa velocidade. Os marinheiros de Vasco da Gama foram os primeiros a sofrer da estranha moléstia que cessou, sem motivo aparente, tão logo a expedição aportou na costa oriental da África e lá recolheu frutas e legumes frescos.
Vasco da Gama malcheiroso na Índia
Naquela breve escala em Mombaça, no Quênia, ocorrida em 7 de abril de 1498, Vasco
da Gama não obteve apenas víveres: ali capturou também um piloto árabe, cuja identidade se mantém controversa. Com a ajuda dele e das monções, os portugueses puderam cruzar o oceano Índico em apenas 41 dias, seguindo a rota que os muçulmanos dominavam há séculos. E assim, no entardecer de 18 de maio de 1498, Gama e seus homens avistaram o Monte Eli, "o trono do deus Shiva", ponto culminante das montanhas vestidas de verde do Malabar. Tinham acabado de "descobrir" a Índia.
Aquele dia tem sido apontado como o do advento da Idade Moderna – ou, quando menos, o momento em que se iniciou o que já foi chamado de "a era da dominação européia na história". Pois foi exatamente então que, após 80 anos de tentativas incessantes, os lusos desvendaram o caminho marítimo para as Índias, abrindo as portas para o mundo globalizado. Trata-se também do instante a partir do qual os costumes dos europeus e seus hábitos de higiene (ou a falta deles) foram observados pela primeira vez pelos hindus – e lhes causaram grande consternação.
"Jamais se viu gente tão inculta, bárbara e suja quanto aquela que acaba de desembarcar aqui", informou um mercador árabe a seu patrão, sediado no Cairo. Mesmo levando-se em conta o fato de tal depoimento ter sido dado por um inimigo da cristandade, a verdade é que, após dez meses no mar, os recém-chegados estavam maltrapilhos e mal-cheirosos. E isso só fez aumentar o constrangimento que caracterizou o primeiro encontro entre Vasco da Gama e Glafer, o rajá de Calicute – cidade na qual os portugueses aportaram ao final de uma viagem épica.
Embora vestidos com suas melhores roupas – "mui bem ataviados", como disse o cronista
Álvaro Velho, testemunha ocular da história –, Gama e seus acompanhantes foram vistos como visitantes de segunda categoria assim que o altivo Samutri-raj, ou "senhor do mar" de Calicute, dignou-se a lhes conceder uma audiência. Para isso certamente contribuiu a mesquinhez dos presentes que os portugueses tinham a oferecer àquele soberano: quatro capuzes de lã, seis chapéus, quatro colares de coral, seis bacias de cobre, dois barris de azeite e dois de açúcar.
"Até o mais pobre mercador de Meca é capaz de ofertar mais" disseram os assessores do samorim, recusando-se a entregar as oferendas. "O que, afinal, vieram vocês descobrir aqui: pedras ou homens?", perguntaram. "Se foram homens, porque trouxeram presentes tão pobres?".
Embora os rubis, as esmeraldas e as pérolas da Índia – muitas das quais adornavam o corpo e as roupas de musselina e de seda do rajá – evidentemente interessassem aos lusos, eles na verdade não estavam ali em busca nem de pedras nem de homens. Como qualquer secundarista sabe, o que os levou até o Oriente foram as especiarias. Em meio à obsessão européia por temperos e ervas – então transformados em mercadorias de grande valor especulativo –, ressaltam-se questões de higiene (tanto pública quanto privada), uma vez que tal busca estava ligada diretamente à preservação de alimentos e à procura de medicamentos.
Fora para driblar a barreira imposta pelo Islã após a tomada de Constantinopla, em 1453, que os portugueses – financiados por capitais florentinos e genoveses – lançaram-se em sua aventura ultramarina. Mas não era só a pimenta que interessava àqueles aventureiros e a seus sócios. A noz-moscada, o cravo, a canela, o açafrão e o cardamomo – todas as especiarias, enfim – eram tidas em alta conta. Mais do que meros temperos e conservantes, eram remédios de reputado valor: o cravo mitigava a dor de dente, um dos tormentos mais freqüentes dos europeus desde o início da Idade Média; a canela era anti-séptica e boa para os pulmões; usado em pílulas o açafrão servia para combater a peste.
O contraste entre o estilo de vida europeu e o indiano não poderia ficar mais claro do que no encontro entre Vasco da Gama e o samorim, ocorrido a 29 de maio de 1498. Enquanto o primeiro exalava o odor acre de quem não se banhava há mais de ano e cuja alimentação não incluía produtos frescos, o samorim dispunha de fontes termais, ungüentos, cosméticos e perfumes, alimentando-se de peixe, arroz, laticínios e frutas. Sua cidade era limpa e ajardinada, repleta de fontes e cisternas que adornavam templos nos quais sacerdotes também desempenhavam funções médicas e distribuíam conselhos sobre higiene pessoal.
Quando o samorim enfim chamou os portugueses para o interior da salão real, os sacerdotes espargiram os estrangeiros com borrifos de um líquido perfumado, que os recém-chegados interpretaram como sendo "água benta". Ao lhes servirem de água, os assessores de Glafer solicitaram que não tocassem com os lábios nos recipientes de prata – "por medo da sujidade de nossos beiços" – e determinaram que, ao dirigirem a palavra ao samorim, tapassem a boca com a mão esquerda, "para não o macular com seu bafo", exigindo ainda que se abstivessem "de escarrar e arrotar".
Na solene penumbra da sala, o rei de Calicute sentava-se no topo de um estrado drapeado de veludo verde, recoberto por uma túnica bordada com rosas de ouro e adornado com uma tiara reluzindo de pérolas e pedrarias. Seus longos cabelos negros cintilavam, sedosos. As unhas de suas mãos e pés estavam imaculadamente esmaltadas e ele mascava uma mistura aromática constituída de bétel, cânfora e âmbar utilizada para purificar o hálito.

Os costumes Medievais - Higiene

Higiene e História
Cássio
É impressionante nos dias de hoje quando visitamos o Palácio de Versailles próximo a Paris e observamos que o suntuoso palácio não tem banheiros. Quem passou por esta experiência ficou sabendo de coisas inacreditáveis. Na Idade Média, não existiam os dentifrícios, isto é, pastas de dentes, muito menos escovas de dentes ou perfumes, desodorantes muito menos e papel higiênico, nem pensar... As excrescências humanas eram despejadas pelas janelas do palácio...
Quando paramos para pensar que todos já viram que nos filmes aparecem pessoas sendo abanadas, passam desapercebidos os motivos. Em um país de clima temperado, a justificativa não era o calor, mas sim o péssimo odor que as pessoas exalavam, pois não tomavam banho, não escovavam os dentes e não usavam papel higiênico e muito menos faziam higiene íntima. Os nobres eram os únicos que podiam ter súditos que os abanavam, para espalhar o mau cheiro que o corpo e suas bocas exalavam com o mau hálito, além de ser uma forma de espantar os insetos.
Na Idade Média, a maioria dos casamentos ocorria no mês de junho (para eles, o início do verão). A razão é simples: o primeiro banho do ano era tomado em maio; assim, em junho, o cheiro das pessoas ainda estava tolerável. Entretanto, como alguns odores já começavam a ser exalados, as noivas carregavam buquês de flores junto ao corpo, para disfarçar. Daí termos maio como o "mês das noivas" e a origem do buquê de noiva explicada.
Os banhos eram tomados numa única tina, enorme, cheia de água quente. O chefe da família tinha o privilégio do primeiro banho na água limpa. Depois, sem trocar a água, vinham os outros homens da casa, por ordem de idade, as mulheres, também por idade e, por fim, as crianças. Os bebês eram os últimos a tomar banho. Quando chegava a vez deles, a água da tina já estava tão suja que era possível "perder" um bebê lá dentro. É por isso que existe a expressão em inglês "don't throw the baby out with the bath water", ou seja, literalmente "não jogue o bebê fora junto com a água do banho", que hoje usamos para os mais apressadinhos...
Os telhados das casas não tinham forro e as madeiras que os sustentavam eram o melhor lugar para os animais - cães, gatos e outros, de pequeno porte, como ratos e besouros se aquecerem. Quando chovia, começavam as goteiras e os animais pulavam para o chão. Assim, a nossa expressão "está chovendo canivetes" tem o seu equivalente em inglês em "it's raining cats and dogs" = está chovendo gatos e cachorros.
Para não sujar as camas, inventaram uma espécie de cobertura, que se transformou no dossel.
Aqueles que tinham dinheiro possuíam pratos de estanho. Certos tipos de alimento oxidavam o material, o que fazia com que muita gente morresse envenenada (lembremo-nos que os hábitos higiênicos da época não eram lá grande coisa...). Os tomates, sendo ácidos, foram considerados, durante muito tempo, como venenosos. Os copos de estanho eram usados para beber cerveja ou uísque. Essa combinação, às vezes, deixava o indivíduo "no chão" (numa espécie de narcolepsia induzida pela bebida alcoólica e pelo óxido de estanho). Alguém que passasse pela rua poderia pensar que ele estava morto, portanto recolhia o corpo e preparava o enterro. O corpo era então colocado sobre a mesa da cozinha por alguns dias e a família ficava em volta, em vigília, comendo, bebendo e esperando para ver se o morto acordava ou não. Daí, surgiu a vigília do caixão.

 Inglaterra é um país pequeno e nem sempre houve espaço para enterrar todos os mortos. Então, os caixões eram abertos, os ossos tirados e encaminhados ao ossário e o túmulo era utilizado para outro infeliz. Às vezes, ao abrir os caixões, percebiam que havia arranhões nas tampas, do lado de dentro, o que indicava que aquele morto, na verdade, tinha sido enterrado vivo. Assim, surgiu a idéia de, ao fechar os caixões, amarrar uma tira no pulso do defunto, tira essa que passava por um buraco no caixão e ficava amarrada num sino. Após o enterro, alguém ficava de plantão ao lado do túmulo durante uns dias. Se o indivíduo acordasse, o movimento de seu braço faria o sino tocar. E ele seria "saved by the bell", ou "salvo pelo gongo", expressão essa por nós usada até os dias atuais.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Movimentos sociais no Brasil - Período Republicano

Movimentos sociais no Brasil - Período Republicano
Uma perspectiva ampla é necessária para abordar os movimentos sociais brasileiros, de vez que suas características são muito variáveis. Algumas rebeliões ficaram somente da fase conspiratória. Em alguns casos, foi mínimo, quase insignificante, o grau de participação das classes populares. Em outros, não houve razões de ordem política ou econômica para o movimento, que foi impulsionado somente por razões religiosas. Eis os principais movimentos sociais durante a República:
1) Revolta da Armada
·  movimento contra o presidente Floriano Peixoto.
·  irrompeu no Rio de Janeiro, em 6 de setembro de 1893.
·  praticamente toda a marinha se tornou antiflorianista.
·  principal combate ocorreu na Ponta da Armação, em Niterói, a 9 de fevereiro de 1894. - governo conseguiu a vitória graças a uma nova esquadra, adquirida e aparelhada no exterior.
·  parte dos revoltosos se rendeu a 13 de março.
·  outros 400 revoltosos se refugiaram em dois barcos de guerra portugueses e rumaram para o Uruguai.
2) Revolução Federalista
·  iniciada em fevereiro de 1893, no Rio Grande do Sul.
·  batalhas ocorreram em terra e mar, chegando até o Paraná.
·  remanescentes da Revolta da Armada, que haviam desembarcado no Uruguai, uniram-se aos maragatos (antiflorianistas), que lutavam contra os pica-paus (governistas).
·  ao final, os maragatos foram derrotados pelo exército governista.
3) Guerra de Canudos
·  avaliações políticas erradas, pobreza e religiosidade deram início à guerra contra os habitantes do arraial de Canudos, no interior da Bahia, onde viviam, em 1896, cerca de 20 mil pessoas sob o comando do beato Antonio Conselheiro.
·  mal-entendido sobre a venda de madeiras serviu como estopim.
·  de novembro de 1896 à derrota em outubro de 1897, o arraial resistiu às investidas das tropas federais (quatro expedições militares).
·  a guerra resultou em cerca de 25 mil mortos.
4) Revolta da Vacina
·  novembro de 1904, Rio de Janeiro.
·  milhares de habitantes tomaram as ruas em violentos conflitos com a polícia, revoltados pelo fato de terem de se submeter à vacinação.
·  forças governistas prenderam quase mil pessoas e deportaram para o Acre metade delas.
5) Revolta da Chibata (ou Revolta dos Marinheiros)
·  de 22 para 23 de novembro de 1910 os marinheiros se revoltaram, exigindo novas relações dentro da Armada (eliminação do castigo da chibata) e reconhecimento de pobres e negros como cidadãos livres e dotados de direitos.
·  apesar de anistiados pelo governo, a 9 de dezembro uma nova sublevação naval ocorreu, agora na ilha das Cobras.
·  governo decretou estado de sítio e reprimiu o levante.
6) Revolta de Juazeiro
·  1914, em Juazeiro do Norte, interior do estado do Ceará.
·  sob a liderança do padre Cícero Romão Batista e acreditando cumprir uma ordem divina, os sertanejos pegaram em armas para derrubar do poder o novo interventor do estado.
·  o governo cedeu, devolvendo o poder ao grupo político que antes controlava o Ceará.
7) Guerra do Contestado
·  entre 1912 e 1916, na região dos estados do Paraná e Santa Catarina.
·  semelhante a Canudos, conflito envolveu messianismo, pobreza e insensibilidade política.
·  construção da estrada de ferro ligando São Paulo ao Rio Grande do Sul levou à região alguns dos elementos que provocaram a eclosão da guerra.
·  forças policiais e do exército alcançaram a vitória, deixando milhares de mortos.
8) Movimento Tenentista
·  levantes militares nas três primeiras décadas do século 20.
·  primeiro no Rio de Janeiro, em 1922, depois em São Paulo, em 1924.
·  tenentes se revoltaram contra o comando político das oligarquias, exigindo profundas reformas republicanas.
·  derrotados pelas forças oficiais, parte do grupo formou a Coluna Prestes, que percorreu o país até 1927.
·  tenentes também teriam grande participação na Revolução de 1930, movimento desencadeado por parcela da elite política brasileira, descontente com a constante troca de poder entre São Paulo e Minas Gerais. Em 1930, um golpe de Estado levou ao poder Getúlio Vargas.
9) Revolução Constitucionalista
·  dois anos depois da Revolução de 30, a 9 de julho de 1932, o Estado de São Paulo se rebelou contra a ditadura Vargas.
·  embora o movimento tenha nascido de reivindicações da elite paulista, teve ampla participação popular.
·  apesar da derrota - São Paulo lutou isolado contra as demais unidades da federação -, a resistência foi um marco nas lutas em favor da democracia no Brasil.
10) Revolução de 1964
·  a 31 de março de 1964.
·  vitória foi alcançada em um só dia, depondo o presidente João Goulart.
·  movimento teve motivações políticas e militares, que lhe trouxeram apoio não somente das classes conservadoras, mas também de amplos setores das classes médias.
·  crescente influência política de lideranças sindicais esquerdistas levou poderosas forças sociais à organização do movimento, com grande participação feminina (as "marchas da família com Deus pela liberdade").
·  sublevação militar partiu de Minas Gerais. No dia 1º de abril, Goulart abandonou o poder, ordenou a cessação de toda e qualquer resistência e partiu para o exílio no Uruguai.

Resumo República Oligarquica

1. Conceito
* República Oligárquica é o termo utilizado para denominar o período entre 1894 e 1930, em que o Brasil foi governado por grupos ligados ao café.
* O termo “Oligárquica” significa que o poder estava concentrado num grupo pequeno, uma elite. Neste caso, a elite cafeeira.
* Este período, juntamente com a República da Espada, faz parte da República Velha.

2. Os donos do poder I
* Com o fim do governo dos militares, em 1894, o Brasil passou a ter presidentes vinculados a grupos cafeeiros.
* Neste período, a maioria dos presidentes eleitos ou eram de São Paulo, que produzia o café, ou Minas Gerais, que produzia leite.
* Por este motivo, o revezamento de presidentes escolhidos entre São Paulo e Minas Gerais, ficou conhecido como Política do Café-com-Leite .
* Os presidentes, durante este período, foram: Prudente de Morais, Campos Sales, Rodrigues Alves, Afonso Pena, Nilo Peçanha, Hermes da Fonseca, Venceslau Brás, Delfim Moreira, Epitácio Pessoa, Artur Bernardes, Washington Luís, Júlio Prestes.

3. Os donos do poder II
* A Política do Café-com-leite está relacionada com uma troca de favores políticos entre o governo federal e o estadual, denominada Política dos Governadores.
* Em algumas cidades do interior, em especial no Nordeste, vigorava a prática do Coronelismo.
Coronel era o nome que se dava a alguém que, por seu poder, influenciava na política local.
* Sendo o voto aberto, ou seja, não-secreto, e através da violência ou suborno, os coronéis geralmente conseguiam eleger os políticos de sua preferência.
* Este ato é denominado “ voto de cabresto ”, pois ia de acordo com a vontade dos coronéis.
4. Movimentos sociais
* A República Oligárquica foi um período turbulento. Várias revoltadas sacudiram o país.
* No geral, estas revoltas mostravam insatisfação diante de um sistema de governo que alterava muito pouco as condições de vida da população.
* Entre as principais estão: Guerra de Canudos, Guerra do Contestado, Revolta da Vacina, Revolta da Chibata, Cangaço e Tenentismo.

5. Guerra de Canudos
* A Guerra de Canudos ocorreu entre 1896 e 1897, na Bahia.
* O arraial de Canudos foi criado sob a liderança de Antônio Conselheiro, e agregava famílias pobres do sertão baiano.
* O movimento tinha caráter coletivista, messiânico e monarquista. Conselheiro atribuía à República os males que sofria a população brasileira.
* Considerando Canudos uma ameaça, os governos (federal e estadual) mandaram o exército para destruir o arraial. Porém, foram necessárias quatro expedições para vencer os sertanejos.

6. Guerra do Contestado
* A Guerra do Contestado ocorreu entre 1912 e 1916, numa região entre Paraná e Santa Catarina.
* Grupos de camponeses desta região se revoltaram com a concentração de terras, e com problemas ligados a construção de uma estrada de ferro. Esta estrada de ferro acabou desalojando parte da população local, além de gerar desemprego e monopólio da madeira.
* Neste cenário, José Maria conseguiu reunir várias pessoas, pregando o coletivismo e despertando o descontentamento dos líderes locais e do governo. Em certos aspectos, suas idéias foram semelhantes à de Antônio Conselheiro, em Canudos.
* Foram mais de três anos de luta entre tropas do governo e os camponeses, até a vitória do exército. Esta guerra é considerada a primeira a utilizar aviões.

7. Revolta da Vacina
* A Revolta da Vacina ocorreu em 1904, no Rio de Janeiro.
* Os motivos da revolta estão ligados à higiene precária no Rio de Janeiro, que facilitava a proliferação de doenças.
* Diante deste quadro, o médico Oswaldo Cruz assumiu o compromisso de acabar com a febre amarela e a varíola, decretando vacina obrigatória.
* O povo não aceitava ser vacinado a força, e se revoltou, transformando a então capital federal em um campo de batalha.
* A revolta também expressava a insatisfação da população devido ao desemprego, fome e a demolição de cortiços do centro da cidade, em nome da modernização.

8. Revolta da Chibata
* A Revolta da Chibata ocorreu em 1910, no Rio de Janeiro.
* Os motivos estão ligados aos castigos físicos a que eram submetidos alguns marinheiros, através de chibatadas.
* Diante do abuso nos castigos corporais, alguns marinheiros se revoltaram, liderados por João Cândido, conhecido como Almirante Negro.
* O então presidente Hermes da Fonseca prometeu, em troca do fim da revolta, o fim das chibatadas, e perdão aos marinheiros que se revoltaram.
* Porém, boa parte das promessas não foram cumpridas. Muitos marinheiros foram presos, entre eles João Cândido.

9. Cangaço
* O Cangaço ocorreu entre 1870 e 1940, no sertão nordestino.
* Originalmente, os cangaceiros estavam ligados aos interesses de um coronel.
* Porém, com o aumento da miséria no sertão, grupos de cangaceiros passaram a atuar de forma independente.
* Os cangaceiros eram considerados fora-da-lei e saqueadores, por uns, e justiceiros por outros. Alguns grupos do cangaço distribuíam mantimentos roubados a famílias pobres.
* Um dos grupos de cangaceiros mais famosos, foi liderado por Virgulino Ferreira, mais conhecido como Lampião.

10. Tenentismo
* O Tenentismo ocorreu entre 1922 e 1927, em diferentes localidades.
* Tinham, em comum, o descontentamento com o governo. De certa forma, tiveram influência no fim do poder nas mãos dos cafeicultores.
* A primeira revolta dos tenentes ocorreu em 1922, no Rio de Janeiro, e ficou conhecido como os “Dezoito do Forte”.
* A segunda revolta ocorreu em 1924, em São Paulo, liderados pelo general Isidoro Dias.
* A terceira revolta ocorreu de 1924 a 1927, e ficou conhecida como Coluna Prestes. Os revoltosos, liderados por Luís Carlos Prestes, percorreram mais de 10 estados brasileiros, incitando o povo contra o governo

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

A Lista de Schindler. ( Vc vai gostar de ler)

Quem não conhece a fantástica história de Oskar Schindler? O filme é uma autêntica obra de arte e revelou ao mundo – ou pelo menos para aqueles que desconheciam – os atos heróicos de um empresário alemão que salvou um grande número de judeus da morte quase certa…
Schindler era membro do partido Nationalsozialistische Deutsche Arbeiterpartei (NSDAP), por outras palavras, Partido Nazi. Quando a Segunda Guerra Mundial começou, ele foi viver para a Polônia onde pretendia fazer algum dinheiro ao aproveitar-se da situação. Em Cracóvia ele abriu uma fábrica de utensílios esmaltados e empregou judeus vindos principalmente do famoso Gueto de Cracóvia, um local onde os judeus da cidade foram aprisionados…
Quando o gueto foi desativado em 1943 os empregados de Schindler foram enviados para o campo de concentração de Plaszow, mas continuaram a trabalhar na fábrica onde gozavam de alguma proteção atribuída por Schindler. Em 1944, Plaszow seria desativado e estava previsto o envio de todos os prisioneiros para outros campos de concentração onde seriam mortos. Porém Schindler não se conformou com a ideia e decidiu comprar literalmente todos os seus trabalhadores…
A Lista de Schindler foi então criada, para muitos ela significa vida, para outros o derradeiro esforço de um homem para contrariar a crueldade da época. Schindler gastou toda a sua fortuna e as pessoas na lista acabaram por ser transferidas para a sua cidade natal Zwittau-Brinnlitz onde foram colocadas numa nova fábrica o que lhes salvou a vida…
Hoje presenteamos os nossos leitores com a lista de Schindler, um olhar sobre as folhas que significaram tanto…

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Entre Versos- A Revolta da Chibata e o negro João Cândido

Título: A Revolta da Chibata
Autor: Jota Rodrigues

Grande Deus, mestre e juiz
Justiça que nunca falta
Ilumina este teu servo
A quem deste cultura nata
Com inspiração e saber
Pra que eu possa descrever
A Revolta da Chibata
No Brasil de antigamente
Vivia-se a lei do cão
O negro pobre não tinha
Direitos de cidadão
Privilégios não teria
Conceito ou cidadania
Liberdade ou posição
Cada negro que nascia
Já nascia condenado
A ser produto de venda
E como escravos leiloados
Bons físicos, boa estatura
Crescia mais a fatura
Pra os fazendeiros malvados
E a Marinha Brasileira
Com toda pompa e brancura
A maior corporação
Em conceito e estrutura
Pegava negros a laços
E nos porões sem embaraços
Mantinha-os em escravatura
E na tão famosa escola
De aprendiz de marinheiros
Os recrutas era obrigados
A servir três anos inteiros
Tinham comida pra porcos
Palmatória, relho e socos
Por castigos costumeiros
E se em qualquer coisa o marujo
Saísse da disciplina
Tinha como punição
A chibata assassina
Algemado as duas mãos
E o carrasco entrava em ação
Fazendo a carnificina
Havia o carrasco Alípio
E o Luís Apicuim
Dois monstros encarregados
Para as torturas sem fim
Que enfiava agulhas de aço
Numa corda de cima embaixo
Pra fazer o tal festim
Em uma vasilha d'água
A grossa corda embebia
E das agulhas de aço
Somente as pontas se via
E de cada chibatada
Da carne dilacerada
O sangue em bicas corria
Todo castigo era pouco
Para a pobre marujada
Que muitas vezes doente
E com as forças debilitadas
O remédio era o trabalho
E se mostrasse ponto falho
Entrava na chibatada
E por pequenos motivos
Os marujos era enquadrados
Recolhidos nos porões
Como cães envenenados
Morrendo de sede e fome
Feitos bicho lobisomem
E ainda mais algemados
E quando o infeliz recruta
A sua pena cumpria
Os oficiais das casernas
Davam carta de alforria
Porém já com plano sujo
Assassinava o marujo
Que vivo nunca saía
Só no Satélite cargueiro
Depois de ser anistiados
Centenas de infelizes
Foram brutalmente fuzilados
Já a um passo da liberdade
E partem pra eternidade
Com os pés e mãos algemados
E num calabouço perdido
Que na ilha das Cobras havia
O extermínio de recrutas
Cruelmente acontecia
Eram assassinados com cal
Numa catacumba brutal
E os governos se omitiam
E tanto que na Marinha
Ninguém queria ingressar
Só os desafortunados
Vinham se sujeitar
Preto, pobre ou desvalidos
Pelas elites esquecidos
Queriam se aventurar
E isso forçava a Marinha
A usar a lei do cão
Pegando jovens a laços
Pra sua corporação
E como se fossem cachorros
Pobres ou pretos dos morros
Entravam pra escravidão
Mas a justiça divina
É reta e nunca nos falta
E no Rio Grande do Sul
Segundo a história nos trata
Num lar de escravos nascia
João Cândido, o herói que haveria
De extinguir a chibata
João Cândido Felisberto
Aos quatorze anos ingressava
Na escola de Marinha
E aos quinze já se enganjava
E como um feliz marinheiro
Partiria pro estrangeiro
E já navios comandava
Dotado de inteligência
E humildade sem par
Aprendeu todos mistérios
E a convivência com o mar
Foi grande sindicalista
O ofício que deu-lhe a pista
Das lutas que ia enfrentar
E viajando pela Europa
Bons navios a comandar
E nos clamores dos marujos
Não parava de pensar
E foi jurando dia-a-dia
Que com aquela tirania
Haveria de acabar
E no fundo da Guanabara
Ao raiar de um novo dia
Duzentas e cinqüenta vezes
A chibata descia
No corpo de um marinheiro
Que com a dor e o desespero
Desfalecido caía
E mesmo depois de caído
A chibata não parou
João Cândido e a marujada
Estarrecido ficou
Vendo do pobre coitado
Todo o sangue derramado
E a revolta começou
Outrora outras revoltas
Houve e todas fracassou
Porém esta da chibata
João Cândido sendo o mentor
Prendeu os oficiais
E do navio Minas Gerais
Todos canhões disparou
E o marechal Hermes da Fonseca
Sua posse festejava
E João Cândido com a marujada
Outros navios tomava
Os canhões roncavam fortes
E já feridos e muitas mortes
Nas ruas se amontoava
Dos tiros vinha o clarão
Qual um dilúvio de prata
E num ultimato João Cândido
Gritava abaixo a chibata
Anistia para os marujos
Ou tem fim o jogo sujo
Ou muita gente se mata
E o presidente conhecendo
Que todos estavam perdidos
Ou atendia aos rebeldes
Ou seriam destruídos
Erguei bandeira de paz
E ordena aos oficiais
Atender todos pedidos
E todas reivindicações
O presidente assinou
E João e seus companheiros
O poder de fogo cessou
Os mortos foi sepultados
Os feridos hospitalizados
E tudo se normalizou
Mas depois de anistiados
João Cândido e a marujada
A um passo da liberdade
Caíram noutra cilada
São presos em uma masmorra
E sem ter quem os socorra
Morreram à fome e à pancada
E só dois marujos escaparam
Da masmorra cavernosa
João Cândido já desnutrido
Contrai a tuberculose
E em São João de Meriti
Morreu pobre sem o porvir
Da Marinha gloriosa
E sem honras, glória ou medalha
João Cândido foi sepultado
O bravo almirante negro
Como um indigente coitado
Morreu quase de esmola
Em uma pequena casinhola
Um herói injustiçado
E hoje só recordação
Deste herói negro ficou
Que a lei seca da chibata
Junto à Marinha acabou
Os seus feitos e sua história
Todos guardamos em memória
A tua fibra e valor
Recomendo aos pracinhas
O cuidado e atenção
De quando entrar pra Marinha
Risque a discriminação
Guardem toda a história de
Um grande herói sem glória
E exemplo desta nação